A Polícia Civil do Piauí abriu investigação para apurar a morte de um cavalo durante apreensão por funcionários do Centro de Controle de Zoonoses de Teresina. O animal estaria se alimentando quando foi laçado com uma corda e acabou sendo estrangulado no bairro Buenos Aires, na zona Norte. Vídeos gravados por câmeras de celulares mostram o momento da captura e a revolta de moradores. No chão ficaram marcas de sangue.
O delegado Willame Moraes, titular da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), explica que está sendo apurado o crime de maus-tratos e adianta que já oficiou ao Centro de Zoonoses.
“Foi uma ação mal sucedida que veio a matar esse animal. Já ouvimos o carroceiro, entramos em contato com a Gerência de Zoonoses para que nos apresente esses funcionários para gente ter uma visão de tudo o que aconteceu e possa chegar de forma bem clara ao Judiciário”, explica o delegado.
Willame Moraes diz que há indícios de que o cavalo morreu por falta de instrumentos adequados para o manejo.
“Isso está em áudio, no vídeo encaminhado à Polícia Civil. Eles não teriam instrumentos necessários para fazer a apreensão. O fato é que o animal foi morto! qual seria a responsabilidade desses agentes é o que será apurado. Se você não tem como exercer uma atividade, você não exerce. Você reivindica instrumentos ou não faz. Isso também será analisado no bojo do inquérito, mas há o procedimento administrativo que apura isso”, destaca o delegado.
O corpo do cavalo será periciado. A conduta de maus-tratos é punido com pena de seis meses de detenção, mas há a qualificadora por ter resultado em morte.
“Se for comprovado o dolo e os elementos de provas comprovarem os maus-tratos, eles vão responder por isso. Fora isso existem dois procedimentos paralelos que são o processo administrativo e a questão civil, afinal de contas um pai de família deixou de ter à sua disposição um meio de sustentar sua família, que aí cabe indenização”, esclarece delegado Willame Moraes.
Por meio de nota, o Centro de Controle de Zoonoses de Teresina informou que está adotando as providências para identificar o que de fato ocorreu, já ouviu os servidores envolvidos no caso e vai ouvir testemunhas.
Perdi um amigo e minha fonte de renda
O cavalo se chamava Sheldon tinha cerca de sete anos e era do carroceiro Júlio César que se emociona ao lembrar do animal.
“O CAVALO ERA QUEM ME AJUDAVA A SUSTENTAR MINHA FAMÍLIA E ME AJUDAVA A TER RENDA. AGORA FIQUEI DESEMPARADO. DEPENDIA DELE PRA TRABALHAR, CUIDAR DOS MEUS FILHOS, PAGAR MINHAS CONTAS, A ALIMENTAR MEUS FILHOS […] MEUS FILHOS TODOS GOSTAVAM DELE, E EU TAMBÉM. MINHA FILHA MAIS NOVA CHOROU, ELA ERA MUITO APEGADA A ELE. VOU FICAR COM SAUDADES! GOSTAVA MUITO DELE. ELE ERA PARTE DA MINHA FAMÍLIA, ERA COMO SE FOSSE IRMÃOS DO MEUS FILHOS, A GENTE CONVERSAVA COM ELE. ME AJUDAVA A TRABALHAR E AJUDAVA A SUSTENTAR MEU FILHOS. ESTOU SEM O AMIGO E SEM FERRAMENTA DE TRABALHO”, LEMBRA O CARROCEIRO QUE DIZ QUE SHELDON ATENDIA PELO NOME E RELINCHAVA AO PASSAR POR ELE.
Ele conta que tinha ido buscar os filhos na escola quando o cavalo se soltou e saiu de casa.
“Quando voltei já foi a vizinhança me dizendo que o cavalo havia morrido, que o pessoal da correição da Zoonoses laçou o cavalo com uma corda, mas o cavalo se recusou a entrar no caminhão. Três a quatro homens puxaram tanto o cavalo até estrangularem. A carroça era minha forma de trabalho e era a minha única fonte de renda para pagar minhas contas e cuidar dos meus filhos”, lamenta Júlio César que tem seis filhos com idades entre 7 e 15 anos.
O carroceiro acredita que houve manejo inadequado e falta de instrumentos apropriados para a apreensão do animal. Ele diz que, até o momento, não foi procurado pelo poder municipal.
“Fui ao local onde ele foi morto e não achei mais. Até agora não foram atrás de saber quem era o dono do cavalo. Eu trabalho de carroça e agora não tenho mais cavalo. Quero saber se vão me indenizar ou dar outro cavalo?”, questiona o carroceiro que registrou boletim de ocorrência por maus-tratos.
Vereadores defende afastamento de servidores
A vereadora Thanandra Sarapatinhas, ligada à causa animal, avalia a situação como maus-tratos e defende o afastamento dos servidores do Centro de Zoonoses envolvidos no caso.
“A investigação ainda tem ocorrer, mas, quando for comprovado que realmente houve maus-tratos, eles terão que ser demitidos, não tenham dúvidas! Soube que o cavalo era idoso, cego e morreu lentamente. Toda situação é um absurdo. É inadmissível compactuar com uma atitude assim. As devidas providências terão que ser tomadas”, enfatizou Sarapatinhas.